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PALAVRA DO PÁROCO

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Festa da Sagrada Família Jesus, Maria e José – 30 de dezembro de 2018 - Homilia

A instituição familiar segundo Deus

Pe. Maurício Henrique – pároco

Nascendo e crescendo em uma família humana, Deus consagra a instituição familiar como lugar privilegiado do encontro do homem com Deus. É possível encontrar Deus no seio de uma família. A família é o lugar sagrado desse encontro com o divino. Quando o amor habita no lar de uma família, esta se torna ícone de Deus.

É missão dos pais colaborar com Deus na formação e na educação religiosa e espiritual dos filhos. Obedecendo a seus pais, Jesus apresenta o valor primordial da família na educação da pessoa. A vocação da família é de acompanhar cada um dos seus membros no caminho da descoberta de Deus e de seu desígnio. Foi com Maria e José que Jesus aprendeu a buscar as coisas de Deus quando foi levado em peregrinação à Jerusalém. Quem conduz seus filhos à Igreja repete o gesto de Maria e José para com o Jovem Jesus. Assim como fizeram Nossa Senhora e São José levando o Menino ao Templo aos 12 anos. Os pais devem educar seus filhos para dizerem "Sim" a vontade de Deus. Eles não podem considerar seus filhos como uma posse pessoal, mas como dom e projeto de Deus. Você já estimulou seu filho a ser padre ou freira? A família é nossa melhor escola

O que se pede a uma família cristã? Amor de entrega e fidelidade total de cada membro, oração quotidiana, prática constante das virtudes, compreensão recíproca, respeito mútuo.

Nessa liturgia podemos colocar algumas questões urgentes a serem refletidas para assegurarmos o bem da vocação e da instituição familiar, bem como uma adequada educação cristã que deve ser oferecida aos filhos.

Estão os pais educando seus filhos na Lei do Senhor?

Que forma encontram para apresentar o Cristo e a Igreja aos seus filhos?

Quais os desafios dos casais inseridos na Igreja na educação cristã de seus filhos?

Estão exercendo a autoridade sobre os filhos?

Exortando-os e corrigindo-os  no caminho de Cristo?

Estão os pais dando testemunho de fé aos seus filhos?

Os pais conhecem a doutrina para dialogar com seus filhos sobre pontos bem delicados que hoje o mundo coloca contra a vida, a família, o sagrado matrimônio, a relação homem e mulher, a dignidade da pessoa humana.....?

Estão os pais dando bons conselhos aos seus filhos?

Estão os pais rezando com os seus filhos?

O pai ainda possui a autoridade paterna daquele que conduz, sustenta, orienta, corrigi?

A mãe consegue ainda harmonizar o ambiente, exalar o perfume da santidade de Cristo, aconselhar o esposo, ser forte na fé, na esperança e ardente de caridade?

O que estou fazendo quando meus filhos jovens abandonam o caminho da Igreja e vivem algo contrário à vontade de Deus?

Os pais têm sido catequistas?

Encontramos hoje situações delicadas. Pais que sofrem e oram incessantemente pelo filho que toma outros caminhos. Famílias que não conseguem retomar o caminho do perdão e da reconciliação. Casais que não são devidamente acompanhados e encontram-se em crise, à beira de uma separação. A vida familiar que vira rotina e perde o sabor tornando insuportável a convivência familiar, etc.

Não se pode perder a esperança! A Sagrada Família de Nazaré sempre estará intercedendo pelo bem das famílias. E a Igreja como mãe se colocará sempre ao lado delas.

Como está o nosso apostolado pelo bem das famílias? O que temos feito como paróquia pelas famílias?

Segundo o costume dos judeus, aos treze anos o rapaz israelita começava a ser um “filho da lei” passando a ter os deveres e direitos da Lei mosaica, incluindo o dever de peregrinar a Jerusalém. No relato de Lucas podemos observar como Jesus, aos doze anos, voltou-se completamente para o seu Pai de modo a agradar-lhe em tudo. Jesus estava radicalmente voltado para o cumprimento da vontade do Pai. No Evangelho deste Domingo encontramos Jesus totalmente consagrado à missão decorrente da sua filiação divina: “Eu devo estar na casa de meu Pai”.

É em Jerusalém que Ele vai cumprir esta vontade entregando-se pela humanidade. Este episódio antecipa o que mais tarde acontecerá. Permanecendo em Jerusalém ele proclama quem é e qual é a sua missão. Mais tarde Jesus caminhará para Jerusalém para realizar a obra de Deus. Nossa Senhora e São José entram neste mistério, mesmo sem compreender totalmente, acompanhando seu filho. Os dois precisam submeter-se a vontade de Deus, pois o próprio Deus estava nesta família. No mistério da encarnação Deus se faz homem em uma família. Esta família é dita sagrada porque Deus estava nela e porque todos estavam envolvidos em seu mistério e em seu desígnio de amor.

Deus se encarnou em uma família para restaurar o projeto divino para a família. Jesus quis começar a Redenção do mundo no seio de uma família. A Sagrada Família é modelo e caminho para todas as famílias. Encarnando-se em uma família, Ele quis santificar a família com a sua presença. O próprio Deus Trindade é família e fez o homem à Sua imagem e semelhança, ou seja, capaz de amar e de se realizar como pessoa por meio do amor, por meio da doação de si estabelecendo laços de amizade com outras pessoas. O ambiente natural onde é chamado a viver este projeto de amor e comunhão é a família. Na família, santuário da vida, torna-se presente a vida trinitária de Deus. São Josemaria Escrivá afirmava que a família era a “trindade na terra” colocando assim em relevo a profunda conexão entre a Santíssima Trindade e a Família. A família deve ser um lugar onde Deus caiba plenamente e possa estar no centro do amor entre todos.

A vida em família é um caminho de santidade. E nela só vive bem por meio da caridade e da doação mútua assim como acontece no seio da Santíssima Trindade. Deus quis revelar-se nascendo em uma família humana, e por isso a família humana tornou-se ícone de Deus. A família é uma realidade vital para a sociedade e para a Igreja. A saúde de uma sociedade se mede pela saúde das famílias. Existindo para o mútuo aperfeiçoamento e a geração de vidas, a família é escola de virtudes e o lugar habitual onde devemos encontrar a Deus. É uma comunidade de fé e de amor.

A Família é projeto de Deus.

Geradora de vida, assim como Deus.

Comunhão de Amor, assim como Deus é em si e conosco.

A família é lugar de diálogo, de paz e alegria. Isso há em Deus, diálogo de amor entre o Pai Eterno e o Filho Unigênito, e, os dons da paz com alegria.

Deus partilha sua paternidade. Fala aos corações daqueles que são chamados a criar comunhão no amor na família. Deus habita na família. É Santuário de Deus, santuário sagrado.

A Família, portanto, é reflexo do Deus Uno e Trino e de seu amor-comunhão com a Igreja, a humanidade redimida em seu amor.

Na Eucaristia a família aprende a ser aquilo que é chamada a ser: Igreja Doméstica.

A Família é um projeto de vida. Infelizmente está mergulhada em uma cultura de morte que não só ameaça a vida do corpo, mas a vida da alma, do ser do homem.

O Amor protege, guarda, zela, cuida. Nosso amor é aperfeiçoado na Eucaristia. Qual será nossa atitude diante do mau presente no mundo? A estima e a valorização de nossas famílias. O Amor começa em casa e gera uma sociedade sadia, uma paróquia sadia.

O Amor vence! A Família é o lugar para se exercitar a caridade, o serviço, a humildade, o respeito, a cordialidade, a amizade. É na Família que se aprende os mais belos valores humanos e cristãos.

Seus pais eram tementes a Deus. Caminhavam conforme Deus.

O que Deus tem pedido para a minha família? Em quais caminhos devo andar e conduzir a minha casa? José e Maria caminhavam em direção ao Templo levando o seu Filho Jesus em obediência aos mandamentos de Deus. Quando a família obedece a Deus, não tem medo de errar, vai pelo caminho certo, em direção ao Templo, em direção à Igreja de Deus.

Jesus crescia não somente em estatura como também em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Na família deve-se encontrar o espaço necessário para o desenvolvimento e a promoção da vida humana. Este é o direito que deve ser salvaguardado a todas as famílias.

A família não pode ser ameaçada por nenhum fator externo que venha a roubar a paz do lar ou impedir que os pais ofereçam uma educação humana e cristã aos seus filhos revestida pelos valores do Evangelho.

Estou oferecendo um adequado espaço e meios para o desenvolvimento da vida em todas as suas dimensões em meu lar? Como membro de uma família, estou promovendo o outro reconhecendo a sua dignidade, dons, talentos? A Palavra desta liturgia fala de respeito e amor dentro da família. Pede que os filhos honrem seus pais e que os pais reconheçam o valor de seus filhos.

Cristão, toma consciência que a tua primeira missão é dentro de tua casa. A família é o teu patrimônio por excelência, Deus te presenteou com ela te conferindo como um dom. Se em uma casa cada um viver ocupado consigo mesmo sem importar-se com o bem do outro, nesta casa, não se encontrará paz.

Como zelar pela minha família? Ocupando-me com o bem do outro.

Saindo de mim, servindo, escutando, aconselhando, olhando para as necessidades dos membros de minha casa, tendo compaixão, exortando, corrigindo, vivendo a santidade, testemunhando o amor do matrimônio aos meus filhos, rezando com minha casa, indo a Missa Dominical em família, sentando com os filhos para orienta-los segundo o Evangelho da Vida, respeitando.

O pai deve apresentar ao filho a fortaleza da fé manifestada no temor a Deus. Como faz bem ao filho ver que seu pai confia no Senhor e tem vida de oração. Como faz bem a mulher ver a coerência de vida de seu esposo que caminha conforme Deus.

A mãe deve manifestar a ternura de Deus por meio do zelo, do cuidado. Deve apresentar-se como mulher dócil ao Espírito de Deus. Como faz bem aos filhos ver na mãe esta comunhão de amor que ela tem com Deus. Feliz o homem que se casou com uma mulher de fé.

Os filhos devem honrar seus pais, amando-os e seguindo seus conselhos evangélicos. Não devem desconfiar de nenhuma orientação vinda dos pais quando a mesma estiver de acordo com os valores humanos e cristãos. Deve tomar cuidado com as “modas” do momento. Se nossos pais viverem uma vida digna do Evangelho, é preciso escuta-los e fazer calar as “vozes” de fora. Como faz bem aos pais encaminharem seus filhos na Lei do Senhor! Esta não perece, não passa. Na verdade, nos guarda para a eternidade.

Sim. É isto que nós seremos hoje e sempre: FAMÍLIAS CRISTÃS SEGUNDO O EVANGELHO DE CRISTO JESUS E A SANTA MÃE IGREJA.

Não é a Lei dos homens que diz como devemos ser. A família foi criada por Deus. Ele é o Senhor das famílias.

Na Eucaristia a família tornar-se aquilo que ela é chamada a ser: santuário de vida, comunidade de amor, luz do mundo, esperança dos homens, consolo para os que sofrem. A família cristã deve ser eucarística, ou seja, deve estar no mundo para servir com seu testemunho de santidade.

Que tal se nessa festa litúrgica pudéssemos perdoar-nos uns aos outros? Reconhecer nossos erros e pedir perdão, fazer uma revisão de vida, abraçar nossos pais, abençoar nossos filhos e dizer-lhes o quanto nós o amamos? Que tal se nessa festa litúrgica pudéssemos estabelecer uma meta de nunca faltar uma Missa Dominical em família nesse ano que está por vir?

A família, teu novo lar, começou um dia diante do Altar do Senhor no Sacramento do Matrimônio. O Altar do Senhor é o lugar por excelência das famílias se encontrarem para tomarem a ceia juntas. A Igreja é a casa das famílias. No único altar do Cordeiro, as famílias se encontram dando as mãos e unindo os corações e, aqui na Paróquia Jesus Ressuscitado, formam todas elas, uma única família, a família de Deus unida no amor e na cruz, no perdão, na reconciliação, na paz, na fraternidade, no respeito, para experimentarmos a Ressurreição de Jesus.

Sim, assim nós da Jesus Ressuscitado iniciaremos o novo ano, todas as famílias unidas na Eucaristia de mãos dadas.

 

Documento magisterial:  Amoris Laetitia – Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Santo Padre Francisco sobre o Amor na Família (2016)

 

Acolhendo uma nova vida

166 - A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. Cada nova vida permite-nos descobrir a dimensão mais gratuita do amor, que nunca cessa de nos surpreender. É a beleza de ser amado primeiro: os filhos são amados antes de chegar. Isto mostra-nos o primado do amor de Deus que sempre toma a iniciativa, porque os filhos são amados antes de ter feito algo para o merecer.  Mas, desde o início, numerosas crianças são rejeitadas, abandonadas e subtraídas à sua infância e ao seu futuro. Alguns ousam dizer, como que para se justificar, que foi um erro tê-las feito vir ao mundo. Isto é vergonhoso! (...) Que aproveitam as solenes declarações dos direitos do homem e dos direitos da criança, se depois punimos as crianças pelos erros dos adultos? Se uma criança chega ao mundo em circunstâncias não desejadas, os pais ou os outros membros da família devem fazer todo o possível para aceitá-la como dom de Deus e assumir a responsabilidade de acolhê-la com magnanimidade e carinho. Com efeito, quando se trata de crianças que vêm ao mundo, nenhum sacrifício dos adultos será julgado demasiado oneroso ou grande, contanto que se evite que uma criança chegue a pensar que é um erro, que não vale nada e que está abandonada aos infortúnios da vida e à prepotência dos homens. O dom de um novo filho, que o Senhor confia ao pai e à mãe, tem início com o seu acolhimento, continua com a sua guarda ao longo da vida terrena e tem como destino final a alegria da vida eterna. Um olhar sereno voltado para a realização final da pessoa humana tornará os pais ainda mais conscientes do precioso dom que lhes foi confiado; de fato, Deus concede-lhes fazer a escolha do nome com que Ele chamará cada um dos seus filhos por toda a eternidade.

167 - As famílias numerosas são uma alegria para a Igreja. Nelas, o amor manifesta a sua fecundidade generosa. Isto não implica esquecer uma sã advertência de São João Paulo II, quando explicava que a paternidade responsável não é «procriação ilimitada ou falta de consciência acerca daquilo que é necessário para o crescimento dos filhos, mas é, antes, a faculdade que os cônjuges têm de usar a sua liberdade inviolável de modo sábio e responsável, tendo em consideração tanto as realidades sociais e demográficas, como a sua própria situação e os seus legítimos desejos.

 

Criança, alegria do lar

172 - Recém-nascidas, as crianças começam a receber em dom, juntamente com o alimento e os cuidados, a confirmação das qualidades espirituais do amor. Os gestos de amor passam através do dom do seu nome pessoal, da partilha da linguagem, das intenções dos olhares, das iluminações dos sorrisos. Assim, aprendem que a beleza do vínculo entre os seres humanos mostra a nossa alma, procura a nossa liberdade, aceita a diversidade do outro, reconhece-o e respeita-o como interlocutor. (...) E isto é amor, que contém uma centelha do amor de Deus.  Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso.  Ambos contribuem, cada um à sua maneira, para o crescimento duma criança. Respeitar a dignidade de uma criança significa afirmar a sua necessidade e o seu direito natural a ter uma mãe e um pai. Não se trata apenas do amor do pai e da mãe separadamente, mas também do amor entre eles, captado como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família. Caso contrário, o filho parece reduzir-se a uma posse caprichosa. Ambos, homem e mulher, pai e mãe, são cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérpretes. Mostram aos seus filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor. Além disso, é juntos que eles ensinam o valor da reciprocidade, do encontro entre seres diferentes, onde cada um contribui com a sua própria identidade e sabe também receber do outro. Se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho.

 

175 - A mãe, que ampara o filho com a sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma auto-estima que favorece a capacidade de intimidade e a empatia. Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que por sua vez combine no seu trato com a esposa o carinho e o acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos. Há funções e tarefas flexíveis, que se adaptam às circunstâncias concretas de cada família, mas a presença clara e bem definida das duas figuras, masculina e feminina, cria o âmbito mais adequado para o amadurecimento da criança.

 

A adoção – sinal da generosidade de Deus Pai

179 - A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar aqueles que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos. Adotar é o ato de amor que oferece uma família a quem não a tem. É importante insistir para que a legislação possa facilitar o processo de adoção, sobretudo nos casos de filhos não desejados, evitando assim o aborto ou o abandono. Aqueles que assumem o desafio de adotar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita, tornam-se mediação do amor de Deus que diz: Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria (cf. Is 49, 15).

 

180 - A opção da adoção e do acolhimento exprime uma fecundidade particular da experiência conjugal, mesmo para além dos casos de esposos com problemas de fertilidade (...). Ao contrário das situações em que o filho é desejado a todo o custo, como um direito ao próprio completamento, a adoção e o acolhimento, retamente compreendidos, mostram um aspecto importante da paternidade e da filiação ajudando a reconhecer que os filhos, quer naturais quer adotivos ou acolhidos, são em si mesmos outro sujeito e é preciso recebê-los, amá-los, cuidar deles e não apenas trazê-los ao mundo. O interesse prevalecente da criança deveria sempre inspirar as decisões sobre a adoção e o acolhimento. Por outro lado, deve-se impedir o tráfico de crianças entre países e continentes, por meio de oportunas medidas legislativas e controle estatal.

183 - Um casal de esposos, que experimenta a força do amor, sabe que este amor é chamado a sarar as feridas dos abandonados, estabelecer a cultura do encontro, lutar pela justiça. Deus confiou à família o projeto de tornar doméstico o mundo, de modo que todos cheguem a sentir cada ser humano como um irmão: Um olhar atento à vida quotidiana dos homens e das mulheres de hoje demonstra imediatamente a necessidade que há, em toda a parte, duma vigorosa injeção de espírito familiar. (...) Não só a organização da vida comum encalha cada vez mais numa burocracia totalmente alheia aos vínculos humanos fundamentais, mas até o costume social e político mostra frequentemente sinais de degradação. Pelo contrário, as famílias magnânimas e solidárias abrem espaço aos pobres, são capazes de tecer uma amizade com aqueles que estão a viver pior do que elas. Se realmente têm a peito o Evangelho, não podem esquecer o que diz Jesus: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes (Mt 25, 40). Em última análise, vivem o que nos é pedido, de forma tão eloquente, neste texto: Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás feliz. (Lc 14, 12-14). Serás feliz! Aqui está o segredo de uma família feliz.

 

Juventude, família e vida.  

260 - A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos. Os pais devem orientar e alertar as crianças e os adolescentes para saberem enfrentar situações onde possa haver risco, por exemplo, de agressões, abuso ou consumo de droga.

261 - O que interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia. Só assim este filho terá em si mesmo os elementos de que precisa para saber defender-se e agir com inteligência e cautela em circunstâncias difíceis. Assim, a grande questão não é onde está fisicamente o filho, com quem está neste momento, mas onde se encontra em sentido existencial, onde está posicionado do ponto de vista das suas convicções, dos seus objetivos, dos seus desejos, do seu projeto de vida. Por isso, eis as perguntas que faço aos pais: Procuramos compreender onde os filhos verdadeiramente estão no seu caminho? Sabemos onde está realmente a sua alma? E, sobretudo, queremos sabê-lo?

262 - A educação envolve a tarefa de promover liberdades responsáveis, que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência; pessoas que compreendam sem reservas que a sua vida e a vida da sua comunidade estão nas suas mãos e que esta liberdade é um dom imenso.

263 - Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente. O desenvolvimento afetivo e ético duma pessoa requer uma experiência fundamental: crer que os próprios pais são dignos de confiança. Isto constitui uma responsabilidade educativa: com o carinho e o testemunho, gerar confiança nos filhos, inspirar-lhes um respeito amoroso. Quando um filho deixa de sentir que é precioso para seus pais, embora imperfeito, ou deixa de notar que nutrem uma sincera preocupação por ele, isto cria feridas profundas que causam muitas dificuldades no seu amadurecimento. Esta ausência, este abandono afetivo provoca um sofrimento mais profundo do que a eventual correção recebida por uma má ação.

264 - A tarefa dos pais inclui uma educação da vontade e um desenvolvimento de hábitos bons e tendências afetivas para o bem.

267 A liberdade é algo de grandioso, mas podemos perdê-la. A educação moral é cultivar a liberdade através de propostas, motivações, aplicações práticas, estímulos, prémios, exemplos, modelos, símbolos, reflexões, exortações, revisões do modo de agir e diálogos que ajudem as pessoas a desenvolver aqueles princípios interiores estáveis que movem a praticar espontaneamente o bem.

 

O corpo, sinal de vida em Deus

186 - A Eucaristia exige a integração no único corpo eclesial. Quem se abeira do Corpo e do Sangue de Cristo não pode ao mesmo tempo ofender aquele mesmo Corpo, fazendo divisões e discriminações escandalosas entre os seus membros. Na realidade, trata-se de distinguir o Corpo do Senhor, de O reconhecer com fé e caridade, quer nos sinais sacramentais quer na comunidade; caso contrário, come-se e bebe-se a própria condenação. Este texto bíblico é um sério aviso para as famílias que se fecham na própria comodidade e se isolam e, de modo especial, para as famílias que ficam indiferentes aos sofrimentos das famílias pobres e mais necessitadas. Assim, a celebração eucarística torna-se um apelo constante a cada um para que se examine a si mesmo, a fim de abrir as portas da própria família a uma maior comunhão com os descartados da sociedade e depois, sim, receber o sacramento do amor eucarístico que faz de nós um só corpo. Não se deve esquecer que a “mística” do sacramento tem um carácter social. Quando os comungantes se mostram relutantes em deixar-se impelir a um compromisso a favor dos pobres e atribulados ou consentem diferentes formas de divisão, desprezo e injustiça, recebem indignamente a Eucaristia. Ao contrário, as famílias, que se alimentam da Eucaristia com a disposição adequada, reforçam o seu desejo de fraternidade, o seu sentido social e o seu compromisso para com os necessitados.

 

Fraternidade e vida na família

187 - O núcleo familiar restrito não deveria isolar-se da família alargada, onde estão os pais, os tios, os primos e até os vizinhos. Nesta família ampla, pode haver pessoas necessitadas de ajuda, ou pelo menos de companhia e gestos de carinho, ou pode haver grandes sofrimentos que precisam de conforto. Às vezes o individualismo destes tempos leva a fechar-se na segurança dum pequeno ninho e a sentir os outros como um incômodo. Todavia este isolamento não proporciona mais paz e felicidade, antes fecha o coração da família e priva-a do horizonte amplo da existência.

196 - Com efeito, além do círculo pequeno formado pelos cônjuges e seus filhos, temos a família alargada, que não pode ser ignorada. Com efeito, o amor entre o homem e a mulher no matrimónio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar. Aí se integram também os amigos e as famílias amigas, e mesmo as comunidades de famílias que se apoiam mutuamente nas suas dificuldades, no seu compromisso social e na fé.

197 - Esta família alargada deveria acolher, com tanto amor, as mães solteiras, as crianças sem pais, as mulheres abandonadas que devem continuar a educação dos seus filhos, as pessoas deficientes que requerem muito carinho e proximidade, os jovens que lutam contra uma dependência, as pessoas solteiras, separadas ou viúvas que sofrem a solidão, os idosos e os doentes que não recebem o apoio dos seus filhos, até incluir no seio dela mesmo os mais desastrados nos comportamentos da sua vida. E pode também ajudar a compensar as fragilidades dos pais, ou a descobrir e denunciar a tempo possíveis situações de violência ou mesmo de abuso sofridas pelas crianças, dando-lhes um amor sadio e um sustentáculo familiar, quando os seus pais não o podem assegurar.

198 - Por fim, não se pode esquecer que, nesta família alargada, estão também o sogro, a sogra e todos os parentes do cônjuge. Uma delicadeza própria do amor é evitar vê-los como concorrentes, como pessoas perigosas, como invasores. A união conjugal exige que se respeite as suas tradições e costumes, se procure compreender a sua linguagem, evitar maledicências, cuidar deles e integrá-los de alguma forma no próprio coração, embora se deva preservar a legítima autonomia e a intimidade do casal. Estas atitudes são também uma excelente maneira de exprimir a generosidade da dedicação amorosa ao próprio cônjuge.

 

Idoso, sinal de maturidade familiar

191 - Não me rejeites no tempo da velhice; não me abandones, quando já não tiver forças (Sl 71/70, 9). É o brado do idoso, que teme o esquecimento e o desprezo. Assim como Deus nos convida a ser seus instrumentos para escutar a súplica dos pobres, assim também espera que ouçamos o brado dos idosos. Isto interpela as famílias e as comunidades, porque a Igreja não pode nem quer conformar-se com uma mentalidade de impaciência, e muito menos de indiferença e desprezo, em relação à velhice. Devemos despertar o sentido coletivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça o idoso sentir-se parte viva da sua comunidade. Os idosos são homens e mulheres, pais e mães que, antes de nós, percorreram o nosso próprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma batalha diária por uma vida digna. Por isso, como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descarte com a alegria transbordante dum novo abraço entre jovens e idosos!

192 - São João Paulo II convidou-nos a prestar atenção ao lugar do idoso na família, porque há culturas que, especialmente depois de um desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, forçaram, e continuam a forçar, os idosos a situações inaceitáveis de marginalização. Os idosos ajudam a perceber a continuidade das gerações, com o carisma de lançar uma ponte entre elas. Muitas vezes são os avós que asseguram a transmissão dos grandes valores aos seus netos, e muitas pessoas podem constatar que devem a sua iniciação na vida cristã precisamente aos avós. As suas palavras, as suas carícias ou a simples presença ajudam as crianças a reconhecer que a história não começa com elas, que são herdeiras de um longo caminho e que é necessário respeitar o fundamento que as precede. Quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade. Com efeito, a atenção aos idosos distingue uma civilização. Em uma civilização, presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente, se souber respeitar a sabedoria dos idosos.

193 - A falta de memória histórica é um defeito grave da nossa sociedade. É a mentalidade imatura do já está ultrapassado. Conhecer e ser capaz de tomar posição perante os acontecimentos passados é a única possibilidade de construir um futuro que tenha sentido. Não se pode educar sem memória: Recordai os dias passados (Heb 10, 32). As histórias dos idosos fazem muito bem às crianças e aos jovens, porque os ligam à história vivida tanto pela família como pela vizinhança e o país. Uma família que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegrada; mas uma família que recorda é uma família com futuro. Por isso, em uma civilização em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte, porque se separa das próprias raízes. O fenômeno contemporâneo de sentir-se órfão, em termos de descontinuidade, desenraizamento e perda das certezas que dão forma à vida, desafia-nos a fazer das nossas famílias um lugar onde as crianças possam lançar raízes no terreno de uma história coletiva.